O mito de Sísifo

Sísifo era um pastor de ove­lhas e filho de Éolo, o deus dos ventos. Era tido como a pessoa mais ardilosa que já existiu. Morava num povoado chamado Éfira e, ao melhorar as condições do lugar, passou a chamá-lo de Corinto, que mais tarde se tornou uma grande ci­dade. Casou-se com Mérope, fi­lha do deus Atlas e que compõe uma das plêiades.

Um dia, Sísifo percebeu que seu rebanho diminuíra. Estava sendo roubado. Então, marcou suas ovelhas, seguiu o rasto de­las e foi dar na casa de Autólico. Arrolou testemunhas da ladroa­gem e enquanto os vizinhos dis­cutiam sobre o roubo, rodeou a casa em busca de mais alguma ovelha e encontrou a filha do ladrão, Anticleia. Seduziu-a e a engravidou, vingando-se do malfeitor.

Voltando para casa, Sísifo, que andava sempre escondi­do, presenciou Zeus, o deus do Olimpo, raptando Egina, filha de Asopo. Não deu outra, aproveitando-se do fato, Sísifo, em troca da construção de um poço para sua cidade, entregou o deus sedutor. Claro que Zeus ficou sabendo que Sísifo o tinha dedurado, então pediu que seu irmão Efaístos o levasse para o Hades, mundo subterrâneo onde viviam as almas condena­das.

Pressentindo a fúria de Zeus, Sísifo pede à esposa que não o enterrasse após sua morte e, chegando ao Hades, arma uma cilada para Efaístos e o aprisio­na. Conversa com Perséfone, a esposa do deus, e a persuade a deixá-lo voltar e organizar o seu funeral, além de punir os que negligenciaram seu enter­ro. Ela lhe concede a volta por apenas três dias. Mas, voltando à superfície, ele passa a viver normalmente com sua esposa, como se nada tivesse aconteci­do.

Vendo aquele absurdo, pois nin­guém deveria enganar a morte, Zeus ordenou que Hermes o conduzisse novamente ao Ha­des e que lá recebesse um casti­go exemplar. Deveria rolar uma enorme pedra morro acima, até o topo. Porém, chegando lá, o esforço despendido o deixaria tão exangue que a pedra se lhe soltaria e rolaria morro abaixo. No dia seguinte, o processo se daria novamente, e assim pela eternidade, como forma de en­vergonhá-lo pela sua esperteza em querer enganar os deuses e a morte.

Esse mito narra o esforço inú­til de uma pessoa, seu árduo e rotineiro trabalho, que nunca será concluído. Também fala do desejo humano de ser eter­no, como os deuses, vencendo a morte.

Quantas pessoas estão rolando pedra morro acima? Quantas insistem num caso que nunca terá solução? Ou teimando em mudar outra pessoa para se sa­tisfazer? Exercendo uma fun­ção rotineira e vazia? Quantas se acham num martírio sem fim? A maioria? Quantas vivem sob o domínio das ideologias sem questioná-las? Quanto di­nheiro é gasto no inútil esforço de parar o tempo e se tornar jo­vem para sempre?

Até aqui tudo parece ser absur­do, pois quando se tenta reduzir a impossibilidade do mundo a um princípio racional e razoá­vel, nada faz sentido. Mas, le­var a sério até o que é absurdo, é reconhecer a contradição en­tre o desejo da razão humana e da insensatez do mundo. Sem o homem, não há absurdo. En­tão, por que viver uma vida vã e inútil? Ora, o que conta não é a melhor vida, mas como se deve vivê-la. Daí a liberdade. Toda­via, para a maioria, ela também é um absurdo e libertar-se é pre­ciso.

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