115 anos do “Circuito de Itapecerica”: A PRIMEIRA CORRIDA AUTOMOBILISTICA DA AMÉRICA DO SUL
No próximo dia 26 de julho, serão completados 115 anos que o Automóvel Clube de São Paulo promoveu e dirigiu a primeira corrida automobilística da América do Sul, no “Circuito de Itapecerica”.
Com vistas à realização do evento, no começo de junho se reuniram Antônio Prado Júnior, Sílvio Álvares Penteado, José Paulino Nogueira Filho, Numa de Oliveira e Clóvis Glicério.
Eles foram ouvir o Dr. Washington Luís que há época era o Secretário de Justiça e Segurança do Estado de São Paulo que lhes informou que as estradas precisavam de reparos e calçamentos, para que a prova pudesse ser realizada.
Os entusiastas conseguiram a cooperação do Prefeito Barão de Durat que autorizou os reparos das estradas que rapidamente ficaram em condições de receber uma competição automobilística, nos moldes exigidos à época.
O trajeto
O circuito escolhido tinha saída e chegada no Parque Antártica. De lá os concorrentes deveriam seguir pela Avenida Antártica (atual Av. Francisco Matarazzo) e virar à direita na Rua Tabor (atual Rua Cardoso de Almeida) até chegarem à Rua Cerqueira Cesar (atual Rua Teodoro Sampaio) onde dobravam à direita, passando pelo Mercado dos Caipiras (atual Mercado de Pinheiros), pela ponte de Pinheiros em direção a Embu e, virando à esquerda chegavam a Itapecerica. Depois de atravessarem novamente o Rio Pinheiros, os competidores dobravam à esquerda na direção de Santo Amaro, seguiam pelo Caminho de Santo Amaro (atual Av. Brigadeiro Luís Antônio, dobravam à esquerda entrando na Av. Paulista onde seguiam até a Av. Municipal (atual Av. Dr. Arnaldo), Rua Tabor, Avenida Antártica chegando novamente ao Parque Antártica depois de terem percorrido 75 quilômetros.
A corrida
As inscrições foram abertas em 15 de junho e se encerraram no dia 30 do mesmo mês, sendo cobrado 50$000 para as motocicletas e 100$000 para os automóveis.
A prova estava marcada para o dia 14 de julho e contava com cinco categorias: “A” – Motocicletas; “B” – Voiturettes; “C” – Automóveis com cilindro máximo de 119 mm, que correspondia aos motores de 20-30 CV; “D” – Automóveis com cilindro de 120 a 125 mm, que correspondia aos motores de 40 CV; e “E” – Automóveis com cilindro acima de 125 mm, isto é, motores com mais de 45 CV.
No dia 1º de julho o Automóvel Clube de São Paulo recebeu um telegrama do presidente do Automóvel Clube do Brasil, Sr. Aarão Reis, solicitando o adiamento da prova. A solicitação havia sido feita pelo Ministro da Viação, Sr. Miguel Calmon Du Pin de Almeida para que a prova não coincidisse com a abertura da exposição nacional comemorativa do centenário da abertura dos portos brasileiros às nações amigas, pois diante desse fato ele somente poderia comparecer se a prova fosse adiada. Dessa maneira prova foi transferida para o dia 26 de julho.
No dia marcado compareceram à largada 16 participantes sendo: duas motocicletas “Moto Griffon” na categoria “A”; um Delage e dois Lion-Peugeot na categoria “B”; um Renault 20/30 HP, um Berliot 22 HP, dois Diatto Clemente 20/25 HP, e dois Clement Bayard na categoria “C”; dois Fiat 28/40 HP e um Lorrraine Dietrich de 35HP na categoria “D”; e um Lorraine Dietrich de 60 HP na categoria “E”.
Entre os pilotos quatro eram do Rio de Janeiro e doze de São Paulo.
O dia 26 de julho amanheceu nublado, mas na hora da largada, às 12h55 o sol tinha surgido e os carros puderam partir sem que o clima pudesse atrapalhar.
O primeiro a partir foi o Lorraine Dietrich de 60 HP de Jorge Haentijens, seguido cinco minutos depois por Gastão de Almeida, também a bordo de um Lorraine-Dietrich, mas de 40 HP. Todos partiram em intervalos que variavam de 5 a 8 minutos.
Tendo largado em primeiro, Haetjens foi o primeiro a chegar, completando o percurso em 1h31’55, numa média de 48,900 km/h.
Gastão de Almeida vinha cobrindo percurso no menor tempo e já levava cinco minutos de vantagem sobre Sílvio Penteado quando passou por Santo Amaro, mas faltando cerca de 6 quilômetros para a chegada o depósito de óleo do seu Lorraine-Dietrich solta-se obrigando o piloto carioca a parar, sendo ultrapassado por Sílvio Penteado que cruzou a linha de chegada depois de 1h30’05”, batendo assim o mais potente carro de Haetjens em 1 minuto e 50 segundos, sagrando-se vencedor da prova. Sua média foi de 49,953 km/h. Apenas dois carros não chegaram ao final da prova e o problema enfrentado por Gastão de Almeida fez com que se classificasse apenas na 6ª posição.
PROVA: Circuito de Itapecerica
LOCAL: Parque Antártica – Itapecerica – Parque Antártica (São Paulo – SP)
DATA: 216/07/1908
PERCURSO: 75 km
TEMPO: 1h30m05s1
MÉDIA: 49,953 km/h
O VENCEDOR – SÍLVIO PENTEADO
Sílvio Álvares Penteado tinha completado 27 anos na véspera da corrida, pois tinha nascido em 25/07/1881 na Fazenda Palmares, em Araras – SP.
Ele pertencia à aristocracia rural, sendo neto do Barão de Araras e o seu pai, Antônio Álvares Leite Penteado, próspero fazendeiro de café tinha o título de Conde Romano conferido pelo Papa Pio X.
Sílvio no final do século 19 tinha ido estudar na Europa depois de fazer os preparatórios no Colégio São Luiz em Itu. Em 1896 estava na Inglaterra onde cursou a Municipal Technical Scholl e o Owens College. Em 1900 regressou ao Brasil depois de visitar, em Paris, a Grande Exposição Universal, que exibiu as recentes conquistas da ciência e da técnica mecânica.
Em Paris fez amizade com Alberto Santos Dumont e no Brasil foi trabalhar com seu pai na fábrica de sacos de juta: Companhia Paulista de Aniagens. Logo se interessou pelos automóveis, tendo sido um dos fundadores do Automóvel Clube de São Paulo. Sua vitória em Itapecerica rendeu-lhe uma carta da FIAT italiana congratulando pela sua vitória.
O carro com que Sílvio Penteado venceu o Circuito de Itapecerica era idêntico ao que Felice Nazzaro havia conduzido à vitória na Targa Flório de 1907. Tinha um motor de 4 cilindros, com 7.363 cc e pesava cerca de 1300 kg. Foi produzido em 1907 para competir com as Ítala que vinham vencendo as principais provas automobilísticas italianas, tendo conseguido seu intuito com a vitória na Targa Flório.