Projeto “Nova Raposo” e Contorno de Itapecerica: A Polêmica Ambiental no Coração do Cinturão Verde
O projeto de ampliação da Rodovia Raposo Tavares, batizado de “Nova Raposo”, e a construção do contorno rodoviário em Itapecerica da Serra se tornaram um ponto focal de intensas críticas e preocupações ambientais na Grande São Paulo. Enquanto o Governo do Estado e a concessionária EcoRodovias defendem a obra como essencial para a mobilidade e segurança, ambientalistas e movimentos sociais alertam para os danos irreversíveis ao meio ambiente e aos recursos hídricos da região.
O trecho de Itapecerica, parte de um plano de ligação entre a Raposo Tavares e a BR-116, corta uma área vital do que é conhecido como o cinturão verde de São Paulo, crucial para a preservação da Mata Atlântica e para os mananciais que abastecem a metrópole.
Os Principais Riscos Ambientais em Debate:
* Desmatamento e Perda de Vegetação Nativa: O traçado da nova via e do contorno rodoviário ameaça áreas remanescentes da Mata Atlântica, uma das florestas mais biodiversas e ameaçadas do planeta. Entidades como a Sociedade Ecológica Amigos do Embu (SEAE) e a Preservar Ambiental destacam a perda de milhares de árvores e a interrupção de corredores de fauna.
* Impacto em Recursos Hídricos e Mananciais: A construção é vista como uma ameaça direta aos cursos d’água e nascentes essenciais para a formação dos mananciais locais. Há risco de contaminação da água durante as obras e, a longo prazo, com o aumento do fluxo de veículos e o escoamento de poluentes da rodovia.
* Indução ao Crescimento Desordenado: Críticos apontam que a nova infraestrutura tende a induzir a ocupação urbana desordenada nas margens da rodovia, intensificando a pressão sobre as áreas protegidas e mananciais, contrariando as políticas de preservação.
* Poluição do Ar e Sonora: O aumento esperado no tráfego, especialmente de veículos pesados, elevará a emissão de gases poluentes e o ruído, afetando a qualidade de vida das comunidades vizinhas e a saúde da fauna local.
Mobilização e Contraponto:
O projeto enfrenta a forte oposição do movimento “Nova Raposo, NÃO!”, que tem realizado audiências públicas populares e seminários para debater o tema. Um parecer recente do Ministério Público apontou “falhas graves e riscos ambientais” no projeto, reforçando as preocupações da sociedade civil.
Por outro lado, o Governo de São Paulo e a concessionária afirmam que o projeto será executado com “melhores práticas socioambientais” e que a concessão prevê um rigoroso processo de fiscalização da ARTESP. Segundo a Secretaria de Parcerias em Investimentos, estudos como os do IFC (International Finance Corporation) garantem parâmetros de sustentabilidade mais rigorosos do que a lei brasileira.
A matéria levanta a questão de fundo: o desenvolvimento rodoviário é compatível com a preservação ambiental em áreas de alta sensibilidade ecológica? Enquanto o debate se acirra, a sociedade civil exige que a mitigação de impactos e as compensações ambientais sejam tratadas com a máxima transparência e rigor, para evitar que a promessa de maior fluidez no trânsito se traduza em um custo ambiental irreversível.
