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Cinismo em Taboão: Entre o Basquete Pago e o Judô Largado, Qual é o Real “Rombo” da Gestão?

O governo do Engenheiro Daniel (União Brasil) acaba de nos dar uma aula magistral sobre o cinismo da gestão pública: emergência se resolve com R$ 27 mil; promessa a 80 crianças se joga no lixo.
O fato é cristalino: a Prefeitura agiu com a velocidade de um raio para quitar uma dívida com a Liga Desportiva Paulista e salvar o basquetebol da desclassificação. Uma canetada ágil, um “bom senso” elogiado pelo Secretário de Esportes, Luiz Lune. Fim do problema. Perfeito.
Mas este sucesso administrativo relâmpago é um espelho cruel para a tragédia que se arrasta no Ginásio Zé do Feijão.
Enquanto uma dívida de valor irrisório comparada aos R$ 81,9 milhões em “restos a pagar” é liquidada em um dia, a reconstrução da sala de treinos de judô – prometida desde que a estrutura foi condenada por chuvas na gestão anterior (Aprígio) – permanece no reino das promessas vazias.
Em maio, após reformar a quadra principal – o palco dos jogos adultos – o Prefeito Daniel prometeu solenemente que a sala de treinos de judô, destruída há mais de um ano, seria reconstruída e entregue entre setembro e outubro. Hoje, em novembro, a obra sequer começou.
O que se questiona não é a prioridade em pagar fornecedores sob ameaça (como a Liga de Basquete), mas sim a inversão de valores ao negligenciar a infraestrutura básica e a dignidade de 80 crianças.
O ápice da humilhação reside no tratamento dado ao material. Tatames, que deveriam ser um símbolo de disciplina e higiene, viraram um monumento ao abandono:
 * Chegaram imundos.
 * Foram limpos pelos próprios pais, cansados da inércia oficial.
 * Foram sumariamente retirados para um evento, provando que o material das crianças serve de tapa-buraco para a festa do governo.
 * Retornaram sujos de doces e sangue.
Há algo mais simbólico e revoltante do que sujeira e sangue no material do esporte que a UNESCO elege como o melhor para a formação infantil? É a imagem perfeita de uma Secretaria de Esportes que falhou no básico: higiene, respeito e planejamento.
O problema, Sr. Prefeito, não é apenas o montante de R$ 261,5 milhões herdados. O verdadeiro rombo é moral, e ele é escancarado pela falta de sensibilidade.
O governo consegue se mobilizar por uma multa do basquete, mas ignora a erosão lenta e dolorosa da oportunidade de 80 crianças. A juventude de Taboão da Serra merece mais do que a sobra, mais do que treinos cancelados em favor de eventos de calendário.
O dinheiro para a dignidade do judô existe. Falta apenas a prioridade.
Que o cheque de R$ 27 mil pago ao basquete sirva, finalmente, como um despertador. Do contrário, a herança mais nefasta que esta gestão deixará não será a dívida do passado, mas a prova de que a sua própria falta de prioridade é o maior custo social de Taboão da Serra.
A comunidade do Zé do Feijão continua pagando seus impostos e aguardando uma resposta concreta, que vá além do discurso de “revitalização” de quadras principais.
A pergunta que se impõe diante de um ano de promessas quebradas, treinos noturnos e tatames sujos é inescapável: será que a Secretaria Municipal de Esporte está dando apenas golpes de sorte (Koka) e imobilizações (Osae-Komi) nas crianças do judô da cidade, em vez de garantir o golpe perfeito (Ippon) que é a infraestrutura adequada?

Mário Aparecido de Souza

Jornalista diplomado

Primeira turma de 85 da FCS CL

MTB 18493

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