A criminalização da pobreza
O Brasil enfrenta, como é sabido e sentido por muitos de nós, uma crise sem precedentes, com reflexos diretos nos serviços públicos essenciais oferecidos, ou melhor, negados a uma população carente e sem perspectiva de melhora.
O desemprego é outro recorte que esfrega na nossa cara uma realidade dura, um fantasma que mora hoje junto de muitas famílias, seja sob um teto, seja nas ruas.
Junto com o desemprego vem um combo pesado de se levar pois , por vezes a perda da moradia obriga pessoas e às vezes famílias inteiras a irem para a rua; fomenta o subemprego, aumento da violência, da fome, das enfermidades e outras tantas mazelas que a sociedade está se habituando a viver, mas que não deveria, pois é algo que não é natural. O ser humano não nasceu pra viver à margem da vida.
Com o desmonte das políticas assistenciais e da saúde surge uma legião de excluídos, e essa exclusão é cruel, porque ela exclui da vida em comunidade. Torna as pessoas invisíveis.
Estamos vivendo um retrocesso, recentemente na região oeste de São Paulo, em Pinheiros uma mãe com um bebê de colo foi presa porque pedia esmola.
Muitos dos leitores, já estarão tecendo um julgamento a respeito da mãe. Não é esse o ponto.
A pobreza é uma das manifestações da questão social. Na década de 30, o Brasil vivia o processo da industrialização, a consolidação do capitalismo e o crescimento do proletariado e paralelo a tudo isso, houve um acirramento dos conflitos entre patrões e empregados.
Coube então ao Governo Vargas não mais tratar a questão social e todas suas manifestações como caso de polícia e sim como política de governo que visava atender as reivindicações por melhores condições de vida e de trabalho do trabalhador.
E hoje vivemos o que? Exatamente o contrário: como já falei no início, hoje a realidade é o desmonte e a precarização dos serviços públicos, das relações trabalhistas e da criminalização da pobreza, na culpabilização da pessoa pela situação que vive.
Embora o contexto hoje seja da globalização, da mercantilização a questão social é a mesma: apropriação desigual da riqueza produzida, que gera desigualdade social e seus frutos.
É verdade que o desemprego também pode ser uma alavanca para o início de uma outra história: o empreendedorismo. Mas esta é uma outra história.