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Memorial dos aflitos ainda não saiu do papel na Capital

Memorial dos Aflitos, em homenagem às vítimas da escravidão no século XVIII, em São Paulo, ainda não saiu do papel

 

Há alguns dias assistimos a um crime de racismo de repercussão na grande mídia, praticado por um legislador de nossa região, mais precisamente pelo Presidente da Câmara de Vereadores de Embu das Artes, Renato Oliveira, que além de cometer crime de racismo, com declarações incontestavelmente preconceituosas e desrespeitosas, algo inadmissível, principalmente diante de sua posição como legislador, desacatou autoridades, tudo gravado e compartilhado nas redes sociais.

Isso demonstra como a luta contra o racismo ainda é uma luta urgentíssima em todo o país e salta aos olhos que também muito próximo, na cidade de São Paulo, tardem a reconhecer um patrimônio histórico preciosíssimo, encontrado no Bairro da Liberdade, em 2018, durante a demolição de um prédio antigo aos fundos da Capela Nossa Senhora dos Aflitos, onde hoje é a Rua da Glória.

Foram encontradas no local ossadas de nove pessoas, delicadamente retiradas e catalogadas por arqueólogas, que descobriram, além dos ossos, dois botões de camisa, um de metal e outro de osso, e contas de um colar de vidro, material que indica claramente às pesquisadoras que pertenciam a pessoas escravizadas que utilizavam adereços ligados às religiões de matriz africana.

Essa descoberta também comprovou a existência do Cemitério dos Aflitos, a primeira necrópole de São Paulo. A região abriga a Capela Nossa Senhora dos Aflitos, tombada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, região conhecida como Largo da Forca, hoje bairro da Liberdade e o Pelourinho, hoje Largo Sete de Setembro, onde eram enforcados e açoitados homens e mulheres submetidos à escravidão e também onde eram enterradas pessoas pobres e escravizadas entre os séculos XVIII e XIX, o que se confirmou com o achamento das ossadas.

Há fortes indícios da existência de mais ossadas embaixo de prédios vizinhos. Diante dessa descoberta arqueológica valiosa para a história de nosso país, de grande importância para a luta contra o racismo e notável luta do movimento negro, foi criado o Projeto de Lei 01-00653/2018 pelo então Vereador de São Paulo, Paulo Reis – PT, para a construção do Memorial dos Aflitos, destinado à preservação do acervo arqueológico descoberto e à memória dos negros e negras que viveram e tanto padeceram nesta região durante o período da escravidão. Dentre as peças do acervo, estariam obrigatoriamente ossadas e demais resquícios do antigo Cemitério dos Aflitos e a localização é exatamente a do terreno entre as ruas Galvão Bueno e dos Aflitos, atrás da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, onde foram encontradas as ossadas.

Apesar de a lei ter sido aprovada na Câmara em dezembro de 2019 e sancionada pelo falecido Prefeito de São Paulo, Bruno Covas, em janeiro de 2020, até agora não saiu do papel. Em audiência pública ao final do ano passado, sobre o orçamento executivo proposto na área da Cultura para 2022, na cidade de São Paulo, foi apresentado o Programa de Metas 2021-2024, que inclui projetos de combate ao racismo e um dos objetivos citados foi a inauguração do Memorial dos Aflitos, mas, mais uma vez, as decisões vão na contra mão da valorização da Cultura Negra e do combate ao racismo, pois a previsão para a conclusão do memorial está programada para somente daqui a três anos.

 

*por: Eliane Souza com informações G1

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