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Preta Tia Simôa: a resistência da memória contra o esquecimento oficial

Lembrar é fazer história, sobretudo em meio às disputas de narrativas em torno do epistemicídio (desvalorização da pessoa negra pelo apagamento e negação do seu existir) alimentado pelo racismo estrutural da sociedade brasileira. Propor o resgate de nomes como Tia Simoa é importante porque nossa história foi e é contada por aqueles que foram os próprios devastadores do povo negro. Toda história de abolição de regimes escravistas é muito mais profunda do que demonstram as narrativas oficiais.

 

“No Brasil, mulheres, principalmente as negras, nem sempre puderam falar, escrever e quanto mais publicar sobre si mesmas. Tampouco tiveram suas vozes plenamente respeitadas por aqueles que delas falaram, escreveram e publicaram; na maioria, homens brancos” – trecho do prefácio “Resgatar Nossa Memória”, escrito por Jaqueline Gomes de Jesus, no livro “Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis”, da escritora cearense Jarid Arraes.

O regime racista, patriarcal e escravocrata que marcou o Brasil Colônia ainda ecoa e circula nas veias da história do País. Uma característica disso é o apagamento histórico de nomes de mulheres que foram imprescindíveis para a luta contra a escravidão e o tráfico de negros e negras. Uma dessas personagens foi Preta Tia Simoa, uma importante liderança na mobilização dos jangadeiros contra o transporte de negros escravizados para a capital da província do Ceará, no século XIX.

Como forma de celebrar sua luta e sua memória, o mandato É Tempo de Resistência apresentou o projeto de Lei 335/21, que institui na data de 25 de julho o Dia da Preta Tia Simoa e da Mulher Negra. A proposta prevê a realização da Semana Preta Tia Simoa de Combate à Discriminação Contra Mulheres Negras, sempre na primeira semana de agosto no Estado do Ceará.

Ainda que a historiografia não forneça informações amplas e precisas sobre a biografia de Tia Simoa, importante personagem na história de mulheres negras no estado, sabe-se que ela foi casada com José Luiz Napoleão e, junto com o marido, deu impulso à Greve dos Jangadeiros, em 27 de janeiro 1881, que ocorreu no Ceará no século XIX. Assim como muitas companheiras de luta contra a escravidão, ela teve seu nome e sua luta omitidos dos relatos formais e da historiografia oficial sobre aquela época.

Em articulação com os diferentes movimentos de mulheres negras que compõem a luta pela memória e pela igualdade racial no Ceará, o deputado estadual Renato Roseno (PSOL) apresentou o PL 335/21 com o objetivo de “chamar a atenção para a situação das mulheres negras, figuras mais exploradas e oprimidas da sociedade, e para destacar os indicadores sociais, econômicos, políticos, que denunciam suas condições e posições na história”.

Com a proposta, o calendário oficial do Estado do Ceará passou contar com a Semana Preta Tia Simoa de Combate à Discriminação Contra Mulheres Negras, que tem, entre seus objetivos, a promoção da visibilidade de raça e gênero e o fortalecimento das ações contra o racismo, o sexismo e todas as formas de violência contra as mulheres negras; além da preservação da memória e da contribuição dos povos afrodescendentes, em especial das mulheres negras, para a formação social do estado do Ceará.

 

*fonte: blognegronicolau.com

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