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Manoel Congo: O líder africano que desafiou os poderosos do Vale do Café

Marianna Crioula teve papel fundamental na revolta capitaneada por ele em 1838

 

No final da década de 1830, Manoel Congo liderou uma revolta que abalou as estruturas do Vale do Paraíba Fluminense, desafiando os poderosos Barões do Café da região. “Manoel representa um dos inúmeros líderes africanos que, aqui chegando, empreenderam diversos modos para chamar a atenção da sociedade sobre a condição social dos negros e negras e a forma como empreendiam suas lutas e resistiam às investidas do sistema escravocrata em que se assentava a sociedade brasileira”, explica a professora Patrícia Cristina de Aragão.

Indignado com mais um brutal assassinato na Fazenda Freguesia, uma das propriedades de Manoel Francisco Xavier em Paty do Alferes, o grupo capitaneado por Manoel Congo rompeu os portões da senzala, resgatou as mulheres no sobrado e ainda libertou outras centenas de negros e negras em outra fazenda do mesmo proprietário. Estima-se que entre 200 e 400 pessoas empreenderam fuga naquele início de novembro de 1838, embrenhando-se pelas matas da serra onde fundariam o Quilombo no qual Congo e Marianna Crioula foram eleitos rei e rainha.

O levante fez com que a Guarda Nacional fosse acionada, deslocando mais de 150 homens para encontrar o Quilombo recém-formado. Em 10 de novembro, liderada por Luís Alves de Lima e Silva – que se tornaria o Duque de Caxias -, a tropa conseguiu encontrar e cercar os quilombolas. Segundo relato da época, Marianna Crioula resistiu bravamente ao espancamento, enquanto gritava “morrer sim, entregar não!”. Congo foi derrubado com um tiro na perna.

Ao final do embate, dezenas de negros e negras morreram ou ficaram feridos e uma parte escapou pela floresta. Congo, Crioula e mais 14 pessoas foram presas e levadas para Vassouras. O julgamento, que evidentemente não respeitava qualquer trâmite legal, ocorreu em janeiro de 1839, diante da Igreja Matriz de Vassouras. Os historiadores Marcia Amantino e Manolo Florentino destacam que a humanidade das pessoas escravizadas só era reconhecida para a punição delas por algum suposto crime: “(o escravizado) Era uma propriedade, enfim. O ordenamento jurídico da sociedade o constituía como tal, exceto no que concerne à transgressão da lei. A legislação cuidou, é verdade, de regular o seu uso, como normalmente acontece com outros tipos de propriedade”.

Manoel Congo foi condenado, de forma irônica, à “morte natural por enforcamento” – Marianna Crioula, Rita, Lourença, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga foram absolvidas; enquanto Affonso Angola, Justino Benguela, Miguel Creôlo, Bellarmino, Canuto Moçambique, Antonio Magro e Pedro Dias foram sentenciados a receber 50 açoites durante 13 dias (650 ao todo em cada um) e a usar uma gargalheira de ferro por três anos.

O assassinato de Manoel Congo aconteceu em 6 de setembro daquele ano – e Marianna Crioula teria sido obrigada a assistir. O enforcamento foi realizado publicamente em Vassouras, no Largo da Forca, onde hoje está o Memorial em sua homenagem.

 

*fonte: odia.ig.com.br

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