Aqualtune: princesa guerreira do Congo que lutou na resistência do Quilombo dos Palmares
Uma das responsáveis por transformar o Quilombo dos Palmares (1597-1694) na maior e mais duradoura comunidade de resistência dos escravizados fugitivos do período colonial, a princesa Aqualtune – avó de Zumbi, o último líder do quilombo — virou uma lenda por ter sido uma líder militar no Congo antes de ser capturada por tropas portuguesas e enviada ao Brasil como escrava, onde continuou sua luta por liberdade.
Não há registros históricos confiáveis de quando nasceu e sequer de sua linhagem – acredita-se que Aqualtune era filha do rei de umas das tribos ancestrais do Congo. Sabe-se, porém, que no final do século XVI sua nação – na fronteira entre Angola e Congo — foi invadida por mercenários contratados por portugueses e, apesar de Aqualtune comandar um grupo de cerca de 10 mil homens e mulheres contra os invasores, seu povo foi derrotado.
A derrota de sua tribo selou o destino de Aqualtune: a princesa congolesa foi presa com seus companheiros, vendida pelos portugueses como escrava e enviada para o forte de Elmina, em Gana.
De lá, foi colocada num navio negreiro que desembarcou no Recife em 1597, mesmo ano em que um grupo de 40 negros fugidos chegou à Serra da Barriga, formando o primeiro núcleo do que seria o Quilombo dos Palmares. Desesperada, ela teria tentado correr para o mar ao pisar na praia, para voltar nadando para a África. Seu drama, porém, estava apenas começando. Aqualtune foi vendida como “escrava reprodutora” para uma fazenda em Porto Calvo (no atual estado de Alagoas).
A princesa congolesa estava no sexto mês de gravidez quando ouviu falar do chamado “Reino de Palmares”. Teria bolado um plano de fuga e reunido outros 200 cativos, conseguindo chegar ao quilombo. Reconhecida por sua nobreza e liderança militar na luta no Congo, Aqualtune rapidamente foi alçada ao posto de estrategista militar de Palmares – teria sido uma das responsáveis pela organização de resistência do quilombo nos anos seguintes.
Aqualtune deu à luz três filhos considerados ícones do quilombo: Ganga Zumba (nascido ainda no Congo) e Gana, que se tornaram chefes de dois dos mais importantes mocambos de Palmares, e Sabina, que viria ser a mãe de Zumbi (1655-1695), o último comandante do quilombo e considerado o maior líder negro da história do Brasil.
Durante sua vivência com outros ex-escravizados, ela foi essencial não só na organização militar da comunidade como gestora do quilombo, que chegou a reunir 20 mil escravos foragidos. Aqualtune morreu em 1677, em circunstâncias nunca confirmadas – como é comum, por causa da tradição oral, especula-se que teria morrido de causas naturais ou numa emboscada. Existe uma lenda na África que os deuses teriam tornado a guerreira Aqualtune em um ser imortal. Ela teria se transformando em um espírito ancestral, que conduziu seus guerreiros – incluindo o neto Zumbi — até a queda definitiva do Quilombo dos Palmares, em 1694. Sua memória inspirou o tema de enredo da Escola de Samba Mangueira no Carnaval de 2019. Sua história é recontada em versos na obra de Jarid Arraes, Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (2017).
*fonte: https://agendabonifacio.com.br/outros-herois/a-princesa-guerreira-do-congo-que-lutou-na-resistencia-do-quilombo-de-palmares/