DestaqueHistórias Afro-BrasileirasNotícias

Virgínia Leone Bicudo, a mulher negra pioneira da psicanálise no Brasil

A psicanalista também teve outros ofícios, incluindo o de socióloga, carreira que lhe rendeu a autoria da primeira dissertação sobre questões raciais no Brasil

Homenageada pelo Doodle do Google nesta segunda-feira (21), Virgínia Leone Bicudo ajudou a implementar e desenvolver a psicanálise no Brasil. Mulher negra multifacetada, ela teve várias profissões — e foi pioneira em quase todas.

Tornou-se socióloga quando o cargo ainda se institucionalizava, e psicanalista quando o ofício estava se iniciando no país. Foi educadora sanitária, visitadora psiquiátrica, professora universitária e divulgadora científica.

Nascida em 21 de novembro de 1910, na cidade de São Paulo, Bicudo é filha de um descendente de escravo e uma imigrante italiana pobre. De acordo com artigo publicado em 2020 na Revista Brasileira de Psicanáliseseu pai, Theófilo Júlio Bicudo, nasceu de ventre livre. Ele foi afilhado de Bento Augusto de Almeida Bicudo, fazendeiro, produtor de café e um dos fundadores do jornal O Estado de S. Paulo.

A avó paterna de Bicudo, que se chamava Virgínia Júlio, foi uma escrava alforriada. Já a mãe, Giovanna Leone, imigrou da Itália junto com a família, chegando ao porto de Santos em 1897. A psicanalista recebeu o nome da avó e os sobrenomes da mãe e do padrinho do pai.

Dedicada aos estudos desde muito nova, ela concluiu sua formação em 1930, em uma instituição importante de São Paulo, a Escola Normal da Capital (futura Escola Caetano de Campos). Em 1932, ingressou no curso de Educação Sanitária no Instituto de Higiene da cidade.

Após formada, trabalhou na seção de Higiene Mental Escolar do Serviço de Saúde Escolar, de onde se tornou educadora sanitária, segundo o Canal Ciência. Em 1936, ingressou no curso de graduação de Ciências Políticas e Sociais da Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), onde concluiu seu bacharelado três anos depois.

Socióloga contra o racismo

Bicudo ingressou na escola de sociologia, porque queria saber o que o causava o sofrimento. “Eu tinha conflitos muito grandes comigo mesma, mas achava que a causa era social. Desde criança eu sentia preconceito de cor”, relatou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em 1994. “Queria o curso de sociologia porque, se o problema era esse preconceito, eu deveria estudar sociologia para me proteger do preconceito, que é formado ao nível sociocultural”.

Em meio à batalha contra o racismo, a estudiosa negra foi a única mulher dentre oito bacharéis da turma. Conheceu nesse meio o psiquiatra Durval Marcondes, que em 1927 fundou a Sociedade Brasileira de Psicanálise.

Virgínia Leone Bicudo é a primeira da esquerda para a direita, na primeira fila, nessa foto dos alunos do Curso de Educadores Sanitários do Instituto de Higiene — Foto: Divisão de Documentação e Pesquisa da História da Psicanálise (SBPSP)

Em 1940, a socióloga se uniu a Durval e assumiu a cadeira de psicanálise e higiene mental na ELSP. A disciplina abordava o contexto familiar e educacional, enfatizando os cuidados preventivos relacionados à saúde psicológica das crianças, segundo relata em artigo Regina Lacorte Gianesi, membra associada da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP).

Em 1944, Bicudo fundou o Grupo Psicanalítico de São Paulo, precursor da SBPSP. No ano seguinte, a tese de mestrado dela, “Atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo”, foi a primeira dissertação sobre questões raciais no Brasil.

Acusada de charlatanismo

De acordo com o site Multirio, a prática clínica e as iniciativas de Virgínia Bicudo para promover a psicanálise geraram grande repercussão na década de 1950. Ela assinou uma coluna na Folha da Manhã, Nosso Mundo Em 1954, durante o I Congresso Latino-americano de Saúde Mental, que Bicudo ajudou a organizar junto de Durval Marcondes, a mulher foi acusada de charlatanismo por não ter formação médica.

“Eu estava sentada e todos os médicos de pé, todos gritando: ‘Absurdo! Psicanalistas não são médicos!’. Foi horrível!”, revelou em entrevista à SBPSP, em 1989. “Olha que eu quase me suicidei por isso. Você ouvir outras pessoas dizendo: ‘Você é charlatã!’. Ah! Você não fica de pé! Você vai pra casa e quer morrer”.

 

Viagem a Londres e falta de reconhecimento

Um ano depois do incidente, Bicudo foi para Londres estudar sobre psicanálise infantil. Lá fez formação na Sociedade Britânica de Psicanálise e cursos na clínica Tavistock. Teve contato com psicanalistas proeminentes da época, como Melanie Klein, Beth Joseph, Ernest Jones, Frank Phillips (seu analista), Paul

 

*pesquisa :  Jose Lucas (Folha do Pirajuçara)

*fonte : https://revistagalileu.globo.com

*por Redação Galileu

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *