Quem foi Mestre Bimba, criador da capoeira regional
Manoel dos Reis Machado, conhecido como Mestre Bimba, foi o criador da capoeira regional, também chamada de luta regional baiana, no final da década de 1920.
A partir de seus conhecimentos sobre a capoeira primitiva – capoeira Angola – e sobre a luta denominada batuque, ele foi o primeiro capoeirista de sua época a desenvolver um sistema de ensino e, também, o primeiro a dar aulas em ambiente fechado.
Conquistou reconhecimento e respeito da sociedade, numa época em que a perseguição a manifestações da cultura negra era intensa.
“O Bimba foi, talvez, uma das últimas figuras do ciclo heróico dos negros na Bahia. Era um negro enorme, muito forte, analfabeto. Com consciência, com uma erudição no que diz respeito a Bahia e com uma cultura sobre a gente negra inédita”, afirmou Muniz Sodré, ex-aluno e autor do livro Mestre Bimba: corpo de mandinga, em entrevista a Ancelmo Gois, no programa De lá pra cá, da TV Brasil, em 2010.
A vida de Mestre Bimba e o início na capoeira
Manoel dos Reis Machado nasceu no Engenho Velho de Brotas, em Salvador, no dia 23 de novembro de 1899.
O apelido Bimba é fruto de uma aposta entre sua mãe e a parteira, sobre qual seria o sexo da criança. “Ganhei a aposta, o cabra tem bimba e cacho”, teria dito a parteira na hora do nascimento.
O início na capoeira se deu aos 12 anos de idade, no aprendizado do batuque, luta considerada como uma das matrizes da capoeira.
Seu primeiro mestre foi o africano Bentinho, capitão da Companhia de Navegação Baiana.
Aos 18 anos, começou a dar aulas e, aos 27 anos, já era conhecido como Mestre Bimba.
Além de capoeirista, foi carvoeiro, trapicheiro, carpinteiro e doqueiro (trabalhou em docas).
Mestre Bimba cria a capoeira regional
O sentimento de que a capoeira estava perdendo suas características de luta, com golpes estilizados feitos na intenção de empolgar os espectadores, é apontado como o principal motivo que levou Bimba a desenvolver uma variante da capoeira tradicional, denominada Angola.
“Em 1928, eu criei, completa, a Regional, que é o batuque misturado com a Angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”, disse Bimba, conforme relatado no livro A saga do mestre Bimba, de Raimundo Cesar Alves.
Ao longo dos anos, o baiano transformou a capoeira numa luta com método de ensino próprio, criando rituais como o batizado, a formatura e a especialização.
A capoeira era trabalhada em duas vertentes: como luta de defesa pessoal e como manifestação cultural e artística.
“Com a Capoeira Regional, Mestre Bimba suscitou uma nova abordagem expansionista e pedagógica da capoeira: subiu no ringue, realizou apresentações, montou academia, estabeleceu aulas regulares, lições, turmas de alunos com horários preestabelecidos e uma metodologia do ensino através das sequências e jogos diferenciados”, diz Hellio Campos (Mestre Xaréu), no livro Capoeira Regional: a escola de Mestre Bimba.
As variações musicais do berimbau ditam o ritmo, o tipo de jogo que será feito na roda. Na capoeira regional, isso acontece por meio de sete toques criados por Mestre Bimba. São eles: São Bento Grande, Santa Maria, Banguela, Amazonas, Cavalaria, Idalina e Iúna.
Capoeira: de renegada a esporte nacional
Antes de Bimba, a capoeira era ilegal e discriminada como “coisa de malandro” e de escravo “fujão”.
Na década de 1930, Getúlio Vargas, em busca de apoio popular, passou a permitir a prática, apenas em ambientes fechados e com alvará da polícia.
Assim, em 1932, Mestre Bimba fundou sua primeira academia no bairro do Engenho Velho de Brotas. Essa foi, oficialmente, a primeira academia de capoeira a ter um alvará de funcionamento, datado de 1937, registrada com o nome de Centro de Cultura Física Regional.
Mestre Bimba desafiou lutadores e não se soube de alguma ocasião em que tenha sido derrotado.
Levou seu grupo a diversas cidades brasileiras, apresentando a capoeira baiana. Em 1949, por exemplo, realizou em São Paulo uma série de lutas, com atletas de outras modalidades.
Em 1953, fez uma apresentação para o então presidente Getúlio Vargas, que estava de passagem por Salvador. Na ocasião, Vargas afirmou que “a capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional”.
Na apresentação, o grupo de Bimba era formado por duas alas. A da percussão, com dois pandeiros e um berimbau – instrumento símbolo da capoeira e da Bahia –; e a dos capoeiristas, que se revezavam de dois em dois, com movimentos e coreografias encenando os golpes.
A capoeira foi oficializada como prática esportiva pelo Conselho Nacional de Desportos apenas em 1972.
Mestre Bimba: representante da cultura afro-brasileira
Em 1973, Mestre Bimba deixou a Bahia rumo a Goiânia, por motivos financeiros e por ter considerado que os “poderes públicos” não o teriam dado o devido valor.
Um ano depois, em 5 de fevereiro de 1974, ele faleceu na capital goiana, vítima de um derrame cerebral, aos 73 anos.
Seus familiares dizem que ele morreu por tristeza, de “banzo” – doença da nostalgia e saudade que acometia os negros escravizados.
Mestre Bimba contribuiu para a difusão de manifestações culturais da Bahia, como o samba de roda e o maculelê.
Deixou como herança a profissionalização, a metodologia e o respeito da sociedade pela capoeira.
Por influência dele e de seus discípulos, a capoeira conquistou o Brasil e é praticada em diversos países do mundo.
Em 1996, em uma homenagem póstuma, Mestre Bimba recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia.
No mesmo ano, ganhou a maior honraria da Câmara Municipal de Salvador, a Medalha Thomé de Souza.
*pesquisa: Jose Lucas (Folha do Pirajuçara)
Fontes: http://www.multirio.rj.gov.br