O Brasil está voltando aos trilhos, e Embu?

Estamos prestes a completar Um Ano do novo Governo Lula. O chamado Lula 3. E, apesar de parecer pouco tempo para implementar grandes mudanças, muito já foi feito e o segundo ano da terceira passagem do petista pela presidência promete muito mais.

Mas antes de nos aprofundarmos nos feitos do governo, é importante uma breve retrospectiva da conjuntura política e econômica do país.

O Brasil passou por muitas turbulências e gestões catastróficas nos últimos 6 anos. Desde o golpe parlamentar que destituiu Dilma Rousseff da presidência, o país deu um mergulho vertical em um mar de crises econômicas e sociais, e quanto mais se debatia para voltar a tona, mais era sugado para baixo.

Primeiro, Michel Temer implantou reformas que arrocharam salários, retiraram direitos trabalhistas, sepultaram qualquer chance de aposentadoria dos trabalhadores e arruinaram a economia nacional. O país despencou nos rankings de economia global, perdeu espaço e parceiros comerciais e virou uma espécie de “patinho feio, pária” no cenário mundial. Nenhum líder de nenhum país queria ser visto ao lado do Vice que tramou a queda da Presidenta Eleita e ainda se via envolto em diversas acusações de corrupção.

No entanto, nada era tão ruim que não pudesse piorar. O cenário político em 2018 era assustador, os candidatos pareciam distantes dos anseios sociais e uma forte campanha neoliberal era feita diariamente nos meios de comunicação, desequilibrando o cenário político para um dos lados e induzindo o opinião popular para defender interesses que não eram os seus. Ainda assim, haviam opções decentes no pleito. Entre os principais candidatos à presidência naquele ano haviam 3 Professores, 1 Médico, 1 Advogado, 1 Engenheiro e 1 Lunático populista com ideias radicais, que somava 27 anos de vida pública sem jamais ter aprovado 1 único projeto sequer. Os brasileiros foram às urnas e deram a vitória ao lunático. Era uma tragédia anunciada que se confirmou com os 4 anos de mandato de Jair Bolsonaro.

O ex-capitão do exército brasileiro, sem entender de absolutamente nada e completamente despreparado, não deixou qualquer legado positivo. Foi um presidente extremamente preguiçoso, com menos horas trabalhadas da história do Brasil, levantamentos do Portal da Transparência indicaram que Bolsonaro dava expedientes de cerca de apenas 4 horas por dia em média. Destruiu a imagem internacional do país, afastou os principais parceiros comerciais e posicionou o país de joelhos diante dos interesses norte americanos, em uma servidão canina à Donald Trump. No âmbito interno, sua administração foi marcada por escândalos de corrupção, tentativas de usar a máquina do Estado Brasileiro para beneficiar a própria família, e até denúncias de furto e contrabando de joias. Nunca a imagem do Brasil foi tão manchada em nível mundial. A economia desabou. O Brasil caiu da 5ª para 12ª economia mundial e perdeu seu espaço no “G8”, bloco formado pelos 8 países com as maiores economias mundiais. Com isso, a participação internacional brasileira, que já havia encolhido com Temer, simplesmente deixou de existir com Bolsonaro. Caos total.

As péssimas gestões pós golpe de 2016 trouxeram amargas consequências para o povo brasileiro, sobretudo para os mais pobres e vulneráveis. O país voltou a mapa mundial da fome, e até mesmo grande parte daquela camada da sociedade que apoiou o golpe e elegeu o capitão, se deparou com a geladeira vazia, o desemprego, e não sabia como fazer para pagar as parcelas do carro que havia conquistado durante os governos Lula e Dilma.

Mas em 2022, eis que a esperança se renova. Lula prova sua inocência e se habilita para disputar as eleições. E mesmo com todo o esforço (ilegal, diga-se de passagem) de Bolsonaro para se reeleger, o Brasil dá a Lula seu 3º diploma de Presidente da República.

Lula assume a presidência com o cenário de destruição descrito acima, muito piorado. Um gigantesco rombo nas contas públicas é descoberto e o país precisava se recuperar economicamente, e ao mesmo tempo ser pacificado depois de uma disputa eleitoral violenta e com diversas tentativas de sabotagem por parte da gestão anterior, tendo, inclusive, diversos membros do alto escalão de Bolsonaro sendo presos por tentativas de fraudar o processo eleitoral. Imediatamente Lula começa a organizar seus ministérios, organizar encontros internacionais, conversar com os líderes dos poderes, e a reconstruir a imagem do Brasil, primeiro para os próprio brasileiros, e depois para o mundo, que já sinalizava o desejo de voltar a se relacionar com o Brasil pelo simples fato da eleição do petista.

No entanto, a desconfiança, e o medo de setores do mercado financeiro e da grande mídia, rapidamente se dissolvem diante da rápida recuperação econômica que o país teve já nos primeiros 3 meses de governo. A inflação, até então descontrolada, começa a iniciar uma queda inesperada até mesmo para os mais otimistas analistas financeiros e fechará 2023 com uma redução de incríveis 4%, pelo menos. Os efeitos passam a ser sentidos pela maioria da população através da queda nos preços dos alimentos, dos combustíveis, a redução do desemprego de 12% para 7% e o aumento real do salário mínimo, acima da inflação, pela primeira vez desde 2016 (O último governo a promover um aumento de salário acima da inflação, havia sido justamente o governo Dilma).

Outro ponto importante foi a retomada dos programas sociais mais importantes para o povo brasileiro, como o Minha Casa Minha Vida, que havia sido completamente descaracterizado pelo governo Bolsonaro, com o famigerado “Casa Verde e Amarela”, a ampliação do Bolsa Família, o retorno do Mais Médicos o Desenrola Brasil, que tem ajudado milhões de pessoas a quitarem suas dívidas e reorganizarem suas finanças. Mas uma das ações mais comemoradas, foi a quase anistia do FIES, com descontos de até 99% para os alunos que possuem débitos com programa de financiamento estudantil.

Diante da rápida e evidente melhora na gestão do país, a forte desconfiança que pairava sobre Lula se transformaram em 60% de aprovação popular ao Presidente. Fruto de muito trabalho e seriedade no comando do país, com nomeações de pessoas competentes e um olhar humanista para as reais necessidades do povo.

Chegamos então à Embu das Artes. Qual a ligação entre o bom momento político e econômico vivido pelo Brasil, com a cidade?

Embu das Artes vive cenário semelhante ao visto na política nacional antes das eleições de 2022. Atualmente Embu enfrenta seríssimos problemas em sua infraestrutura, abandono completo e péssima gestão na saúde, caos no transporte público, obras inacabadas e diversos outros problemas de ordem pública. Assim como no cenário nacional, a atual gestão se mostrou completamente alheia aos problemas da cidade e dá claros sinais de que, de fato, não conhece e não se importa com o que acontece na cidade. Diversas denúncias relacionadas à contratos na saúde, precariedade dos prédios das UBS’s e Postos de Saúde, falta de remédios nos postos, abandono na cultura, péssima qualidade de transportes com ônibus quebrando e, literalmente caindo aos pedaços durante as viagens. A população reclama de muito dinheiro gasto com festas, enquanto os funcionários da saúde estão com atrasos nos seus salários e os servidores da própria prefeitura protestam por aumento. A zeladoria da cidade está em estado de abandono, o mato toma conta das ruas e praticamente cobrem o telhado das escolas e creches, o lixo não é recolhido regularmente e a cada chuva, novos pontos de enchente aparecem pela cidade. Pela internet circulam vídeos feitos por funcionários onde se vê a estrutura do teto de uma unidade de saúde despencando no meio do dia, em pleno funcionamento do espaço. Não para onde olhar e não ver descaso, abandono e incompetência.

Curiosamente, não faltam recursos para festas e mega eventos onde o prefeito aparece dançante e faceiro ao lado de seus apoiadores. Sobem ao palco, discursam sobre feitos que não podem ser constatados ou visto pelas pessoas. Criam um cenário fantasioso onde parece estar tudo às mil maravilhas. Mas se escondem na hora de dar explicações sobre os problemas evidentes e reais.

Tal como aconteceu nacionalmente, em 2024 haverão eleições municipais. Ao que tudo indica, com disputa bem acirrada entre situação e oposição. E o embuense terá a oportunidade de avaliar entre os postulantes ao cargo quem terá melhores condições de “organizar a casa”. Nesta hora, será fundamental que esse debate esteja nas ruas e que as festas não sejam suficientes para nublar a visão do eleitor na hora de escolher seus futuros representantes.

Diante de tantos desmandos, abandono e incompetência, quem quer que assuma a prefeitura da cidade a partir de 2025, não terá vida fácil. Serão necessárias muitas reformas, implementar mudanças rigorosas e realizar um trabalho sério de auditoria nas contas públicas para entender porque não tem dinheiro para salários de servidores, mas é possível bancar tantas festanças? Como podem os prédios públicos das unidades de saúde estarem, literalmente, caindo aos pedaços, e ao mesmo tempo pagar cachês milionários para artistas renomados? É possível a cidade não ter dipirona nos postos de saúde, bancar show do Wesley Safadão e Netinho de Paula? Nada contra os artistas, mas essas questões precisam ser levadas em conta na hora de usar o dinheiro público.

Fazendo outro paralelo com o cenário nacional, a reorganização só foi possível devido a ruptura com o modelo de gestão que estava posta desde 2016. Levou tempo e os danos foram quase irreversíveis, e apesar do bom desempenho do governo Lula 3, alguns deles ainda serão sentidos ao longo dos anos, até que tudo seja reconstruído.

Em 2024 a cidade terá a oportunidade de avaliar o atual modelo de gestão, momento em que poderá chancelar o que tem sido feito até aqui, ou optar por novos rumos para o município.

*por: Ycaro Oliveira