DestaqueEditorialNotícias

Os perigos de um prefeito que usa apenas as redes sociais para divulgar as suas ações

Usar apenas as redes sociais para divulgar as ações de um prefeito e da prefeitura é uma estratégia que pode trazer diversos perigos e limitações. Embora as redes sociais sejam ferramentas poderosas de comunicação, a exclusividade no uso delas pode comprometer a eficácia e a credibilidade da gestão.

A maior armadilha é a linha tênue entre a divulgação de ações institucionais e a promoção pessoal do prefeito. A legislação eleitoral e os princípios da administração pública (como a impessoalidade) proíbem o uso da máquina pública para benefício político ou autopromoção. Perfis pessoais do prefeito que misturam agenda pessoal com ações da prefeitura, ou publicações institucionais que focam na imagem do gestor, podem ser questionadas pelo Ministério Público de Contas e Justiça Eleitoral, gerando processos e multas. Recentemente, houve casos em que o Ministério Público de Contas de estados como Pernambuco e Espírito Santo emitiram pareceres e recomendações para que prefeitos retirem publicações com caráter autopromocional.

As redes sociais são um terreno fértil para a proliferação de notícias falsas e desinformação. Se a prefeitura se limita a elas, a informação oficial pode se misturar e ser facilmente desacreditada ou distorcida, especialmente em um ambiente onde o controle editorial é limitado.

Liberdade de expressão nas redes sociais também abre espaço para comentários ofensivos, difamatórios e ataques direcionados ao prefeito e à gestão. A falta de um canal oficial mais robusto para a comunicação pode deixar a prefeitura mais vulnerável a crises de imagem e a necessidade de lidar constantemente com conteúdos negativos.

Embora as redes sociais possam divulgar algumas informações, elas não substituem os canais oficiais de transparência, como o site da prefeitura com o Portal da Transparência, que é exigido por lei. Limitar a comunicação a redes sociais pode dificultar o acesso à informação completa e detalhada para aqueles que não utilizam essas plataformas.

Nem toda a população tem acesso ou utiliza as redes sociais. Idosos, pessoas de baixa renda, moradores de áreas rurais ou aqueles sem acesso à internet de qualidade podem ser excluídos da comunicação da prefeitura, gerando um gap de informação importante e desigualdade no acesso aos serviços públicos.

As redes sociais operam com algoritmos que filtram o conteúdo entregue aos usuários. Mesmo com um grande número de seguidores, o alcance orgânico (não pago) das publicações tende a ser baixo, exigindo investimento em mídia paga (impulsionamento) para atingir um público maior. Isso pode gerar custos significativos e levantar questões sobre o uso de recursos públicos.

Ao depender exclusivamente das redes sociais, a prefeitura fica refém das políticas e regras de cada plataforma. Mudanças nos algoritmos, termos de uso ou até mesmo a suspensão de contas podem comprometer a capacidade de comunicação da gestão.

As redes sociais são mais adequadas para comunicados curtos, rápidos e visuais. A divulgação de informações mais complexas, detalhadas ou que exijam contexto aprofundado pode ser limitada, prejudicando a compreensão das políticas públicas e ações da prefeitura.

O volume de comentários e interações nas redes sociais pode ser enorme, e gerenciá-los de forma eficaz, respondendo a dúvidas, críticas e sugestões, exige uma equipe dedicada e capacitada. A falta de respostas ou o gerenciamento inadequado podem gerar frustração e sensação de descaso por parte da população.

As redes sociais tendem a criar “bolhas” onde as pessoas se relacionam apenas com quem pensa de forma semelhante. Isso pode levar à polarização e dificultar o diálogo construtivo, além de não representar a diversidade de opiniões da população.

O foco em curtidas, compartilhamentos e visualizações pode levar a uma busca por “métricas de vaidade” em vez de resultados efetivos na comunicação e no engajamento cívico.

Enfim, para um prefeito, usar apenas as redes sociais para divulgar suas ações é uma estratégia de alto risco. É fundamental ter uma comunicação multicanal, que inclua o site oficial da prefeitura, imprensa tradicional (rádio, jornais impressos e online, TV), canais de atendimento presencial e telefônico, além das redes sociais. A combinação dessas ferramentas garante um alcance mais amplo, maior transparência, credibilidade e a possibilidade de se comunicar de forma mais eficaz com todos os cidadãos, evitando os perigos legais, éticos e de inclusão que a exclusividade digital pode trazer.

 

Mário Aparecido de Souza

Editor da Folha do Pirajuçara

 

 

(*)  Alan Benge

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *