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Dia Mundial de Prevenção de Quedas: um alerta para a saúde do idoso

Hospitais universitários reforçam estratégias de prevenção, reabilitação e cuidados domiciliares

 

Você é idoso ou conhece alguém que seja? Faça estas três perguntas: caiu nos últimos 12 meses? Tem medo de cair? Sente instabilidade ao caminhar? Se a resposta for “sim” para qualquer uma, é fundamental procurar atendimento médico para avaliação do risco de quedas, que podem comprometer a mobilidade e a qualidade de vida. Especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) reforçam a importância da prevenção e da reabilitação adequada.

A segurança contra quedas está entre as seis metas internacionais de segurança do paciente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 24 de junho como o Dia Mundial de Prevenção de Quedas, alertando sobre um problema que afeta todas as idades, mas especialmente os idosos. No Brasil, mais de 100 mil pessoas com mais de 60 anos são hospitalizadas anualmente por esse motivo.

Prevenção de quedas no ambiente hospitalar

Nos hospitais, como no Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco (HU-Univasf), o risco de queda é avaliado na admissão, por meio da Escala de Morse. Com base nos resultados, é elaborado um plano de prevenção individualizado. No entanto, antes da internação — por se tratar de uma unidade de urgência e emergência — o hospital atende diversos casos de quedas de mesmo nível. Somente entre janeiro e abril deste ano, foram registrados 113 atendimentos desses.

Com o objetivo de proporcionar maior segurança a esses usuários e aos demais pacientes, independentemente da causa da internação, são adotadas medidas preventivas para evitar quedas no ambiente hospitalar. Essa ação está alinhada à sexta meta internacional de Segurança do Paciente.

“Uma equipe da Unidade de Segurança do Paciente realiza visitas diárias para o gerenciamento de riscos e, quando necessário, a equipe assistencial reavalia as medidas adotadas. Dessa forma, aprimoramos os cuidados e reduzimos a incidência de quedas após a admissão”, explica o chefe da Unidade de Gestão da Qualidade e Segurança do Paciente do HU-Univasf, Sorykles de Almeida.

Cair não é normal. Prevenir é um ato de cuidado

“Quedas não são parte natural do envelhecimento e podem — e devem — ser evitadas com ações simples e eficazes”, alerta a geriatra Graziela Moura, do Hospital de Clínicas da UFG (HC-UFG). Entre os fatores de risco estão o uso de múltiplas medicações; a perda de força muscular; a redução da visão; a sarcopenia (perda de massa muscular relacionada à idade); as doenças osteomusculares; tonturas e queda de pressão ao se levantar.

Já os riscos ambientais incluem iluminação insuficiente, pisos escorregadios, tapetes soltos, fios e móveis mal posicionados e o uso inadequado de bengalas ou andadores. “As quedas podem trazer sérias consequências, entre elas, fraturas, internações prolongadas, perda de autonomia e até medo de cair novamente, o que reduz a mobilidade e a qualidade de vida”, destacou a geriatra.

A médica enfatizou que a prevenção começa com atos simples. Ela citou: fazer revisões regulares da saúde e dos medicamentos; praticar exercícios físicos orientados, com foco em força muscular, equilíbrio e funcionalidade; promover adaptações no ambiente domiciliar; e usar dispositivos de apoio (como bengalas ou andadores) corretamente ajustados à necessidade individual.

Consequências vão além do físico

A geriatra Ângela Costa, do Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol-UFRN), alerta que quedas afetam principalmente quadris, punhos, braços, cabeça, coluna, joelhos e tornozelos.

Quadril: Fraturas de fêmur proximal são muito comuns e graves.

Punhos e braços: Muitos idosos tentam se proteger com as mãos, o que leva a fraturas no punho.

Cabeça: Quedas com impacto na cabeça podem causar hematomas intracranianos e traumatismos cranioencefálicos, que podem ser fatais ou deixar sequelas importantes.

Coluna vertebral: Principalmente em idosos com osteoporose, podem ocorrer fraturas vertebrais mesmo com quedas de pequena altura.

Joelhos e tornozelos: Lesões ligamentares e fraturas são comuns ao tropeçar ou cair de forma desajeitada.

Além do impacto físico, há consequências emocionais e sociais. “Existe o medo de cair novamente (síndrome pós-queda), isolamento, ansiedade, depressão e perda de autonomia. Isso pode levar à dependência de cuidadores e familiares, impactando também a vida profissional destes. Os custos com internações, cirurgias, fisioterapia e adaptações domiciliares também são significativos”, esclareceu Ângela.

Segundo ela, cerca de 30% das pessoas com 65 anos ou mais caem pelo menos uma vez por ano. Acima dos 80 anos, esse número pode chegar a 50%. “Em mais de 70% dos casos, a queda ocorre dentro de casa, muitas vezes em ambientes conhecidos, como o banheiro, quarto ou corredor. As quedas são a principal causa de internação por trauma em idosos e uma das principais causas de perda de independência”, afirma a geriatra.

Exercício físico como aliado

O profissional de Educação Física André Guimarães, do Huol, ressalta que caminhar é uma sucessão de quedas controladas. “Membros inferiores treinados em resistência e força conseguem manter o equilíbrio, tanto correndo como caminhando, com muito mais eficiência, o que dificulta, as quedas. Para desenvolvê-los, só com o treinamento físico, que leva à hipertrofia muscular e, consequente, ao aumento da força e da potência dos músculos das pernas”, explicou.

Caso haja uma queda, é importante avaliar a gravidade da lesão. O profissional esclarece que em casos de fraturas, deve-se seguir a ordem: recuperação do osso, fisioterapia e, por fim, fortalecimento muscular. Quando a causa for fraqueza, a indicação é iniciar atividades que estimulem o incremento da resistência dos membros inferiores (caminhada, bicicleta, natação) para logo em seguida iniciar um condicionamento mais localizado.

Cuidados em domicílio

O Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB/UFPA) integra o Programa de Assistência Domiciliar do Idoso, do Ministério da Saúde, desde 2003. Segundo o assistente social e referência Técnica do Programa, Renato Oliveira, as atividades estão vinculadas à Unidade de Clínica Médica e atende às diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.

“O Programa visa reduzir a necessidade de internação hospitalar e promover cuidados de saúde humanizados e individualizados no domicílio. Atende idosos com estabilidade clínica que necessitam de cuidados intensivos e acompanhamento multiprofissional, englobando ações de prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos não oncológicos”, comenta Renato.

Ellaine Valeria Lima, enfermeira do Programa, destaca que muitos lares não possuem estrutura adequada para prevenção de quedas. “A equipe do Programa já orienta sobre os cuidados de prevenção no momento da admissão dos pacientes. Desta forma, as famílias, os cuidadores, e a população vai se adequando e se conscientizando sobre os fatores que podem provocá-las”, afirma Ellaine.

 

(*) https://www.gov.br/

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