Coragem para enfrentar os desmatamentos em Itapecerica da Serra
Itapecerica da Serra, coalhada de rios, fábrica das águas responsável por gerar 30% de toda água distribuída do Sistema Guarapiranga para a Região Metropolitana de São Paulo. Cruzando seu território dois rios em destaque: Embu Mirim e Itaquaciara. Uma bacia hidrográfica de dar inveja, cheia de rios, córregos e lagos e mais de 600 nascentes em um território com 28% de sua cobertura de Mata Atlântica. Um orgulho de nossa região e por tudo isso, 100% mananciais. O que é uma dádiva, um privilégio, é considerado uma maldição, repetido como um mantra desconexo com nossa verdadeira vocação: aqui não se pode implementar indústrias, não há desenvolvimento, não gera empregos… Nunca houve uma administração que percebesse o óbvio: nossa riqueza está na natureza, em nossas matas, em nossos mananciais, em nossa biodiversidade. Muito pelo contrário, administrações tacanhas e corruptas, de baixíssimo nível intelectual e moral, arrombando os cofres públicos, sendo essa finda em 2020 investigada por um rombo de mais de R$ 50 milhões, deixando a população carente cada vez mais na miséria. E então, aparece o grande filão da bandidagem institucionalizada, os desmatamentos para loteamentos clandestinos. Aos montes. A atacada Represa Billings, teve de seu ferrenho defensor, o Ex-Vereador de São Paulo Gilberto Natalini, a síntese nesta frase: “Hoje, os criminosos ganham mais dinheiro vendendo terrenos ilegais do que drogas”. Cantareira e Billings devastadas e agora a Guarapiranga, somos a bola da vez. Tudo piorou em 2019, ano da véspera das eleições municipais, e se agravou enormemente durante a pandemia e as eleições. Terreno sempre foi moeda de troca e em 2020 não foi diferente. Os loteamentos tinham “padrinhos” em nome de vereadores e candidatos a prefeito. Troca de voto por destruição de nossos mananciais. O modo de operar é sempre o mesmo. O desmatamento começa silenciosamente, aos poucos e de repente aparecem as retroescavadeiras, derrubando tudo, árvores de mais de oito metros de altura. Animais silvestres são arrastados e feridos diante dos olhos da população que assiste a tudo apavorada diante de tanta destruição e amedrontada diante das ameaças. O próximo passo é aplainar o terreno, abrir ruas e instalar guias e os postes de luz da Aneel e os canos de distribuição da Sabesp. Como? Sem alvarás ou licenciamentos? Sim, estão lá, uniformizados da Sabesp, instalando canos e registros. Pronto, cartazes por toda a cidade, nos postes, nas feiras do rolo, no whatsapp, no facebook, venda de lotes de 1000 m2, aceitam-se moto, carro, parcelas que cabem no seu bolso… Por toda cidade clareiras de mata, terra revirada, retroescavadeiras desmatando na madrugada, loteamentos escancaradamente clandestinos e muito pouco foi feito até agora para parar essa destruição, seja pelo governo Estadual ou Municipal. Se não parar agora, será irreversível, nossa cidade tomada pela conturbação, secam nossos mananciais e vai faltar água na Grande São Paulo. Itapecerica vai juntar-se à massa cinza da periferia de São Paulo, enquanto a especulação imobiliária vai revitalizar os centros, cobrar caro e lucrar muito com isso. Itapecerica sequer vai ter a chance de inserir seus munícipes nas possibilidades da Economia Verde, do Turismo Ecológico, da produção de Alimentos Orgânicos, frutas e mel da Mata Atlântica, das compensações ambientais pela produção de água, sequer vai ter noção do que perdeu.
É agora ou nunca. Ou essa nova administração estanca essa sangria, ou as perdas serão irreversíveis e as Matas de Itapecerica da Serra serão somente registros de uma possibilidade verde que se perdeu por falta de coragem.
Precisamos atuar firmemente contra o desmatamento. A ação criminosa pode deixar o município fora daqueles que receberão recursos da União, por descumprir legislação ambiental.
Agir contra o meio ambiente acirra a miséria humana em todos os sentidos.
Terrível essa destruição…
Muito bom o texto! Sábias palavras!