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A morte dos Ipês-Rosa em Itapecerica da Serra

Projeto paisagístico de Itapecerica da Serra se extingue com a morte de 35 ipês-rosa plantados no Jardim Sampaio, espelho de uma administração municipal irresponsável com o meio ambiente

 

Em seu caminho para o trabalho, em direção à prefeitura de Itapecerica da Serra, muitos funcionários públicos, e até quem sabe o Prefeito da cidade, Dr. Nakano, passam ao lado da Rua Vereador José de Oliveira, no Jardim Sampaio e podem vislumbrar o retrato da atual administração municipal, irresponsável no cumprimento das leis de preservação ambiental em toda a cidade: árvores sufocadas pelo mato que não resistiram e morreram, o que restou de um plantio de 36 ipês-rosa às margens do rio do bairro em Área de Preservação Ambiental. Das árvores, que chegaram a mais de quatro metros de altura, apenas uma sobreviveu, as demais estão mortas, com seus galhos tristes e ressequidos, caules sufocados, cobertos quase que completamente pelo mato que chega às copas. Ao invés do objetivo paisagístico inicial, uma vez que se trata de uma árvore de extrema beleza, estão perfiladas com seus galhos secos e sem folhas, uma imagem desoladora.

 

A proposta de plantio dos ipês foi feita em setembro de 2018, ao Conselho Municipal do Meio Ambiente, pelo então Diretor de Meio Ambiente e Engenheiro Florestal Guilherme Grassmann. O projeto foi aprovado por unanimidade pelo conselho, a um custo de R$ 6.370,00, com recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente, formado pela arrecadação de multas decorrentes de infrações ambientais. O projeto visava a recuperação da Área de Preservação Permanente e mostrava fotos de plantio em outras cidades, com toda a exuberância do ipê-rosa, que floresce nos meses de julho e agosto, quando perde todas as suas folhas verdes e dá flores rosas em profusão. O projeto indicava o plantio perfilado ao longo de 220m, com espaçamento para permitir a entrada de cavadeiras das obras de desassoreamento do rio, para prevenção de enchentes. Mas foi esse justamente o primeiro ataque, pois logo nos primeiros meses que se seguiram ao plantio, na administração anterior, as ações de desassoreamento, que são sempre mal orientadas e predatórias, derrubaram pelo menos duas árvores.

 

Ao longo dos anos que se seguiram, a população pode acompanhar a continuidade da degradação da área, sem qualquer atitude de secretários de meio ambiente ou prefeitos que passaram por ali. Além do despejo de lixo e entulho, que se acumularam no local, não foram colocadas placas indicativas ou proteção às árvores e mais ipês foram perdidos pela ação mecânica do despejo de entulho e até mesmo pelo corte acidental das roçadeiras dos trabalhadores contratados pela própria prefeitura, mal orientados quanto à importância paisagística, que em ação de cortar o mato do local, cortaram também vários ipês. No início da administração atual, em fevereiro de 2021, nesta época de chuvas, podiam ser vistos ainda 25 exemplares, 11 a menos em relação ao plantio inicial, verdes e cheios de folhas, como é costume nesta época do ano para a espécie, mas a degradação que já era grande piorou na administração Nakano. Em março do ano passado, munícipes tentaram salvar uma delas, já com 3 metros de altura que foi também cortada por roçadeira em sua base, amarrando-a em estacas, mas apesar das tentativas, infelizmente mais uma não resistiu.

 

Grassmann defendeu o plantio do ipê-rosa (Handroanthus heptaphyllus), pois: “por experiências com plantios anteriores no próprio município de Itapecerica da Serra, (a planta) não possui grandes exigências nutricionais e de umidade do solo ou sombreamento, se desenvolvendo bem em áreas anteriormente degradadas.” Mas a omissão do poder público foi maior que qualquer intempérie. Dos 36 ipês-rosa inicialmente plantados, com o aval da Sociedade Civil, via Conselho Municipal do Meio Ambiente, hoje restam apenas troncos e galhos secos, um espelho do descaso e abandono a que é relegado o meio ambiente na cidade. Além disso, esse caso da morte dos ipês mostra o descaso com a continuidade do serviço público. A próxima administração não dá continuidade ao trabalho da anterior, causando perda ao meio ambiente e à população. O único ipê sobrevivente foi protegido por uma árvore maior, que com sua sombra protegeu o ipê, e não deixou o mato crescer. Segundo Grassmann, trata-se de uma grandiúva, mais conhecida como pau-pólvora, uma árvore nativa, bem comum aqui na nossa região.

 

A morte dos ipês-rosa são um símbolo do descaso e omissão que se vê em toda cidade. Itapecerica da Serra se transformou no paraíso dos loteamentos ilegais, com centenas de anúncios de terrenos em desconformidade com as leis ambientais, sem qualquer licenciamento, contra o Plano Diretor da Cidade, contra a Lei de Proteção dos Mananciais da Guarapiranga, contra a Lei da Mata Atlântica, contra o Estatuto das Cidades, contra a vida.  Desmatamentos criminosos correm soltos a olhos vistos, em toda cidade, mas principalmente nos bairros Santa Júlia, Crispim e Horizonte Azul. Prefeitura e estado permitem que a ilegalidade tome conta, sem qualquer providência ou fiscalização e as áreas verdes vão se extinguindo, atingindo fauna e flora e afetando a produção de água de nossas nascentes, assoreando rios e córregos e poluindo suas águas com mais esgoto não tratado advindo de toda essa ocupação desordenada. A sociedade civil reage, muitas vezes assumindo riscos, com alguns ganhos, mas a violência das ações criminosas e a omissão e conivência dos governos municipal e estadual tem sido devastadora. A cidade vai perdendo suas áreas de mata, com troncos ressequidos como dos ipês, que sequer chegaram a florescer.

 

*por: Adriana Abelhão

3 thoughts on “A morte dos Ipês-Rosa em Itapecerica da Serra

  • Tatiana Schmidt

    Em abril de 2020 eu plantei 2 Paineiras ali, e os ipes-rosa já estavam com mais de 2,5m. Estavam chamando a atenção dos transeuntes pela beleza e altura. Eu não sabia que era uma área de um projeto paisagístico já que não tinha placas de sinalização, mas tinha certeza que as Paineiras ficariam bem bonitas, afinal havia espaço, alguma manutenção, e estavam fora da linha de plantio dos ipês. Daí desassorearam o rio e mudaram as paineiras de lugar. Logo depois elas não estão mais lá. O mato cobriu tudo. Os ipês ficaram completamente abandonados até que morreram. Me entristece saber que somente 1 sobreviveu e que nossa cidade não valoriza o que tem de mais precioso, que são nossas árvores.

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    • Adriana Abelhão

      Tatiana, são muitas árvores perdidas, muito descaso, um retrato do quando não se dá importância à preservação do meio ambiente, ilustra muito bem toda a destruição que está em curso na cidade. Omissão!

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  • Cesar Augusto Nogueira

    Muito triste! A falta de conhecimento de muitos funcionários contratados, resume a essa perda. Dói na alma ler isso. Eu passo de bike e vi quando plantaram as árvores e ercebi que as árvores estavam sumindo. Triste!

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