Tereza de Benguela: a escrava que virou rainha e liderou um quilombo de negros e índios
Tereza de Benguela é, assim como outras heroínas negras, um dos nomes esquecidos pela historiografia nacional, que, nos últimos anos, devido ao engajamento do movimento de mulheres negras e à pesquisa ou ao resgate de documentos até então não devidamente estudados, na busca de recontar a história nacional e multiplicar as narrativas que revelam a formação sociopolítica brasileira.
Conheça a história dessa mulher incrível!
O local de nascimento de Tereza de Benguela é desconhecido. Ela pode ter nascido em Benguela, atual angola no continente africano
Rainha Tereza de Benguela do Quilombo do Piolho ao do Quariteré
O Quilombo do Piolho, localizado era próximo no vale do Guaporé, próximo á vila bela da santíssima trindade capital da recém província do mato grosso, em 1750 por africanos e crioulos,
O quilombo era formado por cerca de 300 pessoas, fugidos das Novas Minas das lavras de Mato Grosso, onde eram escravos. O quilombo do quilombo foi fundado na década de 1740 pelo líder negro José Piolho, esposo de Tereza de Benguela. Em 1750 com a morte de José Piolho, Tereza se tornou rainha do quilombo, que mudando-se de local passou a se chamar Quilombo de Quariteré, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luís Pinto de Sousa Coutinho e a população.
As atividades dos Quilombolas se resumiam em caçar, pescar, derrubar mato, fazer roça, plantar e colher, criar aves, fabricar aves, produzir mel e guerrear com os índios cabixis, por causa de lhes roubarem as mulheres. O Governador da província de mato grosso, entre o período de 1769-1772 Luiz pinto de Souza Coutinho pressionado pela corte Portuguesa, exigia dos mineradores o aumento de produção, esta Decaia por falta de braços para o trabalho. Os escravos africanos Importados de São Paulo, São Vicente e do Rio de Janeiro, Reduziam-se mortos pelas endemias, fugindo para as malocas de Chiquitos e Missões Espanholas ou sumindo simplesmente sem deixar vestígios. O problema da falta de braçais se agravava, então em reunião promovida pelos proprietários de minerações e o Governador, fico deliberado a organização de uma Bandeira para capturar os escravos fugitivos. As despesas seriam divididas entre os mineradores, o Senado da Câmara e o Governador. O comando da Bandeira optou pelo itinerário pelas cabeceiras dois rios Galerinhas, Galera, Taquara, Piolhinho e Pedra, para alcançar o quilombo, tendo por guia um escravo aprisionado que, sob tortura, informara a existência do mesmo. A Bandeira era composta de mais de trinta homens. Cautelosa, deslocando-se vagarosamente, procurando pistas e sinais dos fugitivos, passou um mês para atingir as cercarias do quilombo. Aproximaram-se ao anoitecer, organizando-se em formação de leque, até cercar completamente o povoado, passaram a noite em suas posições, executando o assalto ao amanhecer, surpreendendo totalmente os seus habitantes, que apenas esboçam uma mínima reação, sendo mortos, feridos e aprisionados.
Alguns homens foram concentrados em baixo de uma árvore, sob a mira dos bacamartes, os mortos enterrados, os feridos medicados e as mulheres possuídas pelos sertanistas, como recompensa epresa de guerra. A Bandeira, após averiguar as redondezas em busca de ouro, regressou a Vila Bela, onde entrou triunfalmente, sendo recebida pelo Governador, altas autoridades e senhores e proprietários de
minas. Após a cerimônia de tortura dos prisioneiros no pelourinho, o corte de uma das orelhas e marcações da letra “F”, na espádua, com ferro em brasa, os escravos foram entregues aos seus donos e à noite houve baile de gala nos salões do Palácio dos Capitães Generais, em regozijo pela vitória alcançada. Era o ano de 1770. O exemplo do bárbaro espetáculo não surtiu o efeito esperado, os
escravos continuaram a fugir e novos quilombos foram organizados, entre os quais destacaram-se os Mutuca. Rainha Tereza :Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a líder do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas.
O Quilombo do Quariterê abrigava mais de 100 pessoas, com destacada presença de negros e indígenas. Tereza navegava com barcos imponentes pelos rios do pantanal. E todos a chamavam de “Rainha Tereza”.
O Quilombo, território de difícil acesso, foi o ambiente perfeito para Tereza coordenar um forte aparato de defesa e articular um parlamento para decidir em grupo as ações da comunidade, que vivia do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana, e da venda dos excedentes produzidos.
Tereza comandou a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas. Os objetos de ferro utilizados contra a comunidade negra que lá se refugiava eram transformados em instrumentos de trabalho, visto que dominavam o uso da forja.
“Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entrava os deputados, sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais, Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava à risca, sem apelação nem agravo.” – Anal de Vila Bela do ano de 1770
Não se tem registros de como Tereza morreu. Uma versão é que ela se suicidou depois de ser capturada por bandeirantes a mando da capitania do Mato Grosso, por volta de 1770, e outra afirma que Tereza foi assassinada e teve a cabeça exposta no centro do Quilombo.
O Quilombo resistiu até 1770, quando foi destruído pelas forças de Luís Pinto de Sousa Coutinho. A população na época era de 79 negros e 30 índios.
Em homenagem a Tereza de Benguela, o dia 25 de julho é oficialmente no Brasil o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A data comemorativa foi instituída pela Lei n° 12.987/2014.
Além da data comemorativa, a rainha Tereza foi homenageada nos versos da escola de samba Unidos do Viradouro, com o enredo da agremiação de 1994, cujo título é ‘Tereza de Benguela – Uma Rainha Negra no Pantanal’.
*pesquisa: Jose Lucas (Folha do Pirajuçara)
Fonte: https://www.ufrb.edu.br/