Atriz Léa Garcia morre aos 90 anos de infarto
Uma das primeiras atrizes negras da televisão brasileira, a carioca Léa Garcia morreu aos 90 anos. À Globo, o filho de Léa afirmou que a mãe sofreu um infarto. Ela chegou a ser encaminhada para o Hospital Arcanjo São Miguel, em Gramado, onde seria homenageada com o Troféu Oscarito no dia 15 durante a 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado.
Quem foi Léa Garcia
Nascida na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, no ano de 1933, Léa Lucas Garcia de Aguiar tornou-se atriz em um momento da história em que esse não era um trabalho comum para mulheres negras. Filha de Stela Lucas Garcia e José dos Santos Garcia, passou a morar com sua avó aos 11 anos, quando sua mãe morreu. Desde jovem, demonstrou o desejo de se envolver com o universo artístico, mas em outro campo. Queria cursar Letras para ser escritora.
Seu destino mudou ao conhecer Abdias Nascimento,com quem teve dois filhos, Henrique Christovão Garcia do Nascimento e Abdias do Nascimento Filho. O dramaturgo e ativista apresentou a ela a sua estante de livros e sugeriu a leitura das tragédias gregas. Depois, a convenceu a subir no palco pela primeira vez, na peça Rapsódia Negra (1952), do próprio Abdias, encenada pelo Teatro Experimental do Negro. A partir de então, a paixão pelas artes cênicas se impôs. Mais tarde teve seu terceiro filho, Marcelo Garcia de Aguiar conhecido como Marcelão Garcia (1965), com Armando Aguiar.
Trabalhando em teatro, TV e cinema, Léa Garcia consolidou uma carreira de papéis marcantes como a Rosa, de Escrava Isaura, novela que a tornou conhecida do público, e venceu a barreira dos personagens tradicionalmente destinados a atrizes negras. Tornou-se, assim, uma referência para jovens atores e admirada pela qualidade de suas atuações.
Carreira
No teatro, uma das peças de destaque que fez no início de sua trajetória foi Orfeu da Conceição (1956), de Vinicius de Moraes. Cotada primeiro para ser Eurídice, Léa Garcia se encantou com a personagem Mira e conseguiu o papel. Os ensaios se realizaram na casa do próprio Vinicius e a estreia aconteceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com cenários de Oscar Niemeyer. No elenco estavam Haroldo Costa, Zeni Pereira, Pérola Negra e Ciro Monteiro.
Um filme foi feito depois, a partir da peça, com o nome Orfeu Negro e direção do francês Marcel Camus. Em vez da Mira, a atriz viveu a Serafina no longa-metragem. “As gravações eram ótimas, os franceses se apaixonaram pelos atores, nos acordavam cantando ‘manhãã’, com sotaque. Esse personagem me valeu o segundo lugar na Palma de Ouro, em Cannes”, conta Léa em entrevista ao Memória Globo.
A estreia em televisão se deu no Grande Teatro da TV Tupi, na década de 1950. Na emissora, participou também do programa Vendem-se Terrenos no Céu, em 1963. O convite para trabalhar na Globo aconteceu em 1970, quando ela integrou o elenco de Assim na Terra como no Céu, de Dias Gomes. Na trama, era Dalva, empregada do personagem de Jardel Filho. Ele inventa que ela era uma princesa de Tobocobucu e passa a frequentar as festas dos grã-finos acompanhado da empregada.
Depois, fez Minha Doce Namorada (1971), de Vicente Sesso, dirigida por Daniel Filho, Régis Cardoso e Fernando Torres, e O Homem que Deve Morrer (1971), de Janete Clair, novela que trazia a história de dois casais inter-raciais, novidade à época. Léa Garcia trabalhou também na TV Rio, onde atuou em Os Acorrentados (1968), de Janete Clair, ao lado Dina Sfat, com Beth Faria, Monah Delacy e Ivone Hoffmann.
Na Globo, a atriz teve a oportunidade de participar do primeiro programa gravado inteiramente em cores no país, Meu Primeiro Baile, Caso Especial exibido em 1972. No mesmo ano, foi convidada para ser a Elza, uma secretária em Selva de Pedra, novela de Janete Clair que teve bastante sucesso. “A novela tinha um enfoque muito forte, o drama da Dina Sfat com a Regina Duarte. A Regina era a namoradinha do Brasil, sempre muito querida pelo público, e a Dina também era querida, uma atriz forte”, compara.
Na emissora, atuou em Os Ossos do Barão (1973), de Jorge Andrade, ao lado de Paulo Gracindo, e em mais uma novela de Janete Cair, Fogo Sobre Terra (1974), quando contracenou com Herval Rossano, antes de ele se tornar diretor. Em ambas, esteve no papel de empregada, mas em Fogo Sobre Terra de forma diferente e conhecendo a censura. Depois de gravar uma cena em que matava o patrão, precisou regravá-la, para evitar o que poderia ser considerado “mau exemplo”.
No ano seguinte, 1975, integrou o elenco de A Moreninha, de Marcos Rey. Duda, sua personagem, apaixonava-se por Simão, escravo que havia fugido e era interpretado por Haroldo de Oliveira. O maior sucesso da carreira aconteceu na próxima novela, Escrava Isaura (1976), um fenômeno de audiência no Brasil e no exterior.
Pesquisa: Jose Lucas (Folha do Pirajuçara)
Fonte: https://pt.wikipedia.org